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Alguns livros infantis que eu gosto!


Frederico




Uma família de ratos recolhe provisões para o Inverno. Todos trabalham... Todos menos Frederico que, embora aparentemente não faça nada, também aprovisiona, ainda que seja outro tipo de recursos: raios de sol, cores, palavras... 
Quando chega o Inverno, comprova-se que o trabalho poético deste pequeno rato era diferente das tarefas desempenhadas pelos demais, mas passa a ser imprescindível para que todos os ratos consigam ultrapassar a crueza desta estação. Assim, neste texto, Frederico é aceite tal como é, e não lhe acontece o mesmo que à desgraçada cigarra da fábula.
Leo Lionni é um dos grandes artistas pioneiros do moderno livro ilustrado. Em "Frederico", o autor reformula a fábula da cigarra e da formiga, alterando o seu significado moral e aprofundando o seu conteúdo sem perder a simplicidade, de modo a que qualquer um de nós possa entendê-la.
Um dos grandes temas da história é a individualidade, a descoberta e a aceitação da identidade própria: Frederico é poeta e demonstra que, à sua maneira, também contribui para o grupo. O livro apresenta-nos o artista, não como um ser auto-marginalizado ou rejeitado, mas como uma pessoa necessária às demais. Perante o valor do trabalho, Frederico recorda aos leitores a necessidade de nos alimentarmos de outras coisas para além de palhas ou nozes.
Mas vai mais além. Para muitos, Frederico poderá parecer egoísta, mas o egoísmo do protagonista é simplesmente a fidelidade a si próprio. Os seus companheiros, longe de recriminá-lo, deixam-no meditar, respeitam a sua introspecção e sentem verdadeira curiosidade pelo seu mundo, ao qual, finalmente, acabarão por agradecer.
Com a sua história, Lionni parece transmitir às crianças a importância da liberdade individual: os leitores sentem-se amparados, pois sabem que os ratos respeitam a individualidade de Frederico, o que satisfaz até o leitor mais inseguro. É como se lhe dissesse que cada um pode ser o que deseja e sê-lo sem receio, uma vez que os outros irão entendê-lo...



 Orelhas de borboleta

 


"- A Mara é orelhuda!
- Mãe, tu achas que eu sou orelhuda?
- Não, filha. Tens é orelhas de borboleta.
- E como são as orelhas de borboleta?
- São orelhas que revoluteiam na cabeça
e pintam as coisas feias de mil cores"




Ter as orelhas grandes, o cabelo rebelde, ser alto ou baixo, magro ou rechonchudo... até a mais insignificante característica pode ser motivo de troça entre as crianças. Por isso é necessário um livro que demonstre a todos, tanto àqueles que fazem como àqueles que recebem algum comentário depreciativo, que esse tipo de comportamento é reprovável. 
E especialmente para os que são apontados pelos outros, a mensagem que lhes transmite este conto é que convertam em positivo aquilo que para outros é motivo de gozo. Porque se devem valorizar as características que nos diferenciam dos outros para nos distinguirem como seres especiais e únicos. Porque reconhecer e inclusive reivindicar a diferença nos fortalece, aceitando-nos como somos e reforçando a nossa personalidade. Esse é o primeiro passo para aprendermos a rir-nos de nós próprios...
Luisa Aguilar mostra uma grande sensibilidade neste texto singelo e cheio de força literária, que transporta o leitor para um mundo de formas, cores, emoções e sentimentos. A figura materna destaca-se como referente vital da protagonista, que responde aos comentários das outras crianças seguindo as indicações da sua mãe: aquilo que para os outros é um defeito, para a Mara é uma vantagem de que os outros carecem.



A Manta, Uma História aos Quadradinhos

 Isabel Minhós Martins · Yara Kono

 

 

A Manta é um álbum sobre a memória e o valor afetivo que transporta. Os pedaços cosidos da vida de uma família são recontados pela matriarca, a avó. Mas, para além da doçura que preside ao elogio do ato de contar e de ouvir histórias entre gerações, a pedra de toque desta narrativa em patchwork está na abordagem à morte da avó e à saudade. (...) Yara Kono ilustra com singeleza artesanal os episódios narrados, criando, página a página, os padrões que preencherão a memória e as guardas deste livro.

Andreia Brites, revista Os Meus Livros, junho 2010



Rosa minha irmã Rosa, de Alice Vieira




 O livro Rosa minha irmã Rosa, de Alice Vieira, centra-se nos conflitos de uma criança de 9 anos, provocados pelo nascimento de uma irmã, transmitindo, ao mesmo tempo, sensações diversas relacionadas com o seu crescimento no seio da família. A narrativa retrata o período de transição da sociedade portuguesa, no pós 25 de Abril, em que a presença de diversas figuras femininas de avós, tias e primas, ocupam espaço e tempo da vida da Mariana, a protagonista, mais tempo do que os próprios pais, naturalmente preocupados com a nova filha recém-chegada, situação geradora do conflito, que será ultrapassado no final do livro, e que provoca distanciamento na sua relação com a irmã.
 Apresenta uma linguagem rica, com muita fantasia (os sonhos de Mariana são muito interessantes, veja-se o sonho da matemática – cap- 11) e as ilustrações de Henrique Cayatte, no início de cada capítulo, sem constituírem uma narrativa gráfica, tornam o livro mais apelativo. Há conflitos e contradições que reflectem os limites da normalidade, ao mesmo tempo que evitam uma transmissão infantil, sem deixar de se orientar a narrativa para um público infantil. O leitor-jovem encontra respostas às suas dúvidas, aos seus porquês.



A grande questão 











Na capa, a criança de Wolf Erlbruch abre os braços, num sinal de interrogação, em cima de uma meia lua, que não é mais do que a Terra quando espreitamos a contracapa. Ela coloca a grande questão que nunca será enunciada: “Porque estou eu aqui na Terra?”
Em cada dupla página o autor dá respostas com humor, insólitas e ao mesmo tempo pertinentes. O número três responde: “Para saberes, um dia, contar até três”; a morte “Estás aqui para amar a vida”; o pato: “Não faço ideia”... depois vem a vez dos pais que alternativamente afirmam o seu amor: “ Porque a tua mãe e eu nos amamos”; “Estás aqui para eu te amar”
No final do livro, folhas pautadas são propostas à criança (e aos pais) de forma que possa, ao crescer, encontrar outras respostas à grande questão. Neste livro, a originalidade da ilustração encontra eco no texto conciso e pleno de emoção. Um grande livro de um mágico extraordinário. Leitura obrigatória que não pode esperar, para que pequenos e grandes possam responder a esta eterna pergunta! 


Onde moram as casas 


 
 
O livro fala dos locais onde vivemos como espelho do que somos, individual ou coletivamente considerados. Se as pessoas moram nas casas, não é menos verdade que as casas moram nas pessoas, e que, longe de ser algo fútil, mundano ou descartável, o que guardamos e o que fazemos das nossas casas é indicativo do caminho que seguimos, enquanto pessoas, no mundo.



Estes são só alguns dos livros infantis que gosto e tive o prazer de trabalhar ;)))

 





Comentários

  1. Adoro livros infantis, pois tenho dois filhos, sou professora do 1º ciclo e tenho um mestrado com especialização em literatura infanto-juvenil. Destes livros todos, só conhecia o da Alice Vieira. Uma das minhas autoras preferidas é a Luísa Ducla Soares e claro a Sophia de Mello Breyner Andresen.
    Não sabia que trabalhavas com livros. Que bonito! Fazes o quê exatamente?

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