O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de nos encontrarmos connosco.
Preciso de ti para saber de mim.
Sei-o sempre que por minutos parece que vou perder-te, numa discussão das que vamos tendo. Discutir é abrir a válvula do amor, deixá-lo respirar, sangrá-lo para poder regressar à estrada. Nenhum amor aguenta sem sangrar.
Preciso de ti para pensar em mim.
Sei-o porque quando parece que vais eu vou também, deixo de saber quem sou, como sou. Para onde vou.
Preciso de ti para precisar de mim.
E os que não me entendem que vão para o raio que os parta. Os que dizem que isto não é nada recomendável, que isto não devia ser assim, que eu devia ser capaz de ser o que sou sem precisar de ti. Infelizes.
Preciso de ti para cuidar de mim.
O amor é bem capaz de ser precisar do outro para cuidarmos de nós.
E eu cuido-me. Quero estar viva para te poder amar. Conheces melhor motivo do que esse? É claro que amo os meus pais, a minha família toda, os meus gatos, aquilo que a vida me tem dado. Mas se quero estar viva é antes de mais nada porque é a vida que te traz até mim.
Mudei a vida toda para te dedicar a minha vida.
E sou feliz. E não deixo de ser a mesma mulher que sempre fui. Não deixo de ser a mulher com cabeça, com ideias. Não deixo de ser a mulher singular que se apaixonou por ti e que te apaixonou também.
Sou mais eu sempre que sou tua.
E sou sempre tua.
Amo o que me fizeste ser. O que me fazes ser. Amo a mulher em que contigo me tornei. Amo saber que tenho em mim o que te faz querer-me em ti. Somos os dois prisioneiros mais livres de todo o universo. Somos os dois escravos mais felizes da História da Humanidade.
Escraviza-me completamente e faz-te escravo de mim, ordeno-te.
Não seguimos os manuais. Os manuais que ensinam o amor em part-time, o amor saudavelzinho. O amor em doses. O amor dividido em rações. O amor como uma empresa. Que tristeza.
Consumimo-nos sem moderação porque se é moderado já não é amor.
Somos ridículos na maneira como nos amamos mas só quem nunca amou é ridículo.
O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de ser ridículo.
Pedro Chagas Freitas, in 'Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?'
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