Li este artigo da Sónia Morais Santos e gostei acho que lá em casa vou fazer o mesmo. Uma boa maneira de estarmos mais perto de cada um dos nossos filhos.
Espero que gostem...
"Desde que instituímos o DFU, estamos todos mais perto uns os outros, e eles contam os dias até voltarem a ser filhos únicos outra vez. Não que quisessem sê-lo sempre, que não queriam, tanto que até estão sempre a pedir mais irmãos.
De quinze em quinze dias estabelecemos cá em casa o DFU, o Dia do Filho Único. No DFU um dos rapazes tem momentos só seus, como se fosse a única cria da família. Vamos buscá-lo ao colégio e almoçamos juntos, e assim permitimos-lhe que partilhe o seu dia e as suas coisas sem as interrupções do costume por parte dos outros irmãos. Além disso, nestes almoços podemos usar uma linguagem apropriada a cada idade, uma vez que, na maior parte dos casos, uniformizamos a coisa para chegarmos a todos ao mesmo tempo.
Em dia de DFU, é bom vê-los a sair aos saltinhos do portão da escola, felizes e saltitantes. É bom o abraço que damos, enorme e apertado, sem termos de estar a olhar para o lado, porque nesse dia não há mais dois em fila de espera para abraçar com a mesmíssima intensidade. Às vezes não é fácil chegar a casa, por exemplo. O pediatra Mário Cordeiro disse-me uma vez, numa entrevista que lhe fiz, que os pais deviam chegar a casa e largar tudo o que tivessem na mão para abraçarem os filhos. Na altura ele até disse: «É preciso largar os congelados no chão e abraçar os filhos quando se chega a casa». Mas, quando são três (nem imagino quando são quatro, sete, doze), uma pessoa às vezes sente que não tem braços que cheguem para tudo. E que quer abraçar todos ao mesmo tempo mas não consegue. E que quer ouvir todas as histórias ao mesmo tempo mas não é possível. E que quer que todos se sintam especiais mas há sempre um que acaba a falar mais e a ter mais atenção que os outros.
O DFU foi principalmente criado por causa do Martim, filho do meio, entalado entre o mais velho e o mais novo, posição tramada porque não é carne nem é peixe, nem se espera dele a responsabilidade e o tino do mais velho, nem se admite que se arme em bebé como a mais pequena da família. Mas a verdade é que quem aparentemente mais tem apreciado o DFU é o Manel, com quem rimos às gargalhadas em cada almoço, porque ele já acompanha as piadas, mesmo as mais subtis, e porque está sequioso de conversas de crescidos. O Martim gosta dos almoços sobretudo porque é quase sempre hambúrguer e batatas fritas ou então pizza, porque o DFU é também isso, um dia em que eles podem abusar.
Além do almoço, um DFU que se preze também inclui qualquer coisa de especial ao fim do dia. A maior parte das vezes vamos ao cinema com o filho único do dia, e o outro compreende e não fica enciumado, porque sabe que também chegará a sua vez. Da última vez, fui ao cinema com o Manel, ver «As Viagens de Gulliver», o seu primeiro filme em inglês, com legendas.
Desde que instituímos o DFU, estamos todos mais perto uns os outros, e eles contam os dias até voltarem a ser filhos únicos outra vez. Não que quisessem sê-lo sempre, que não queriam, tanto que até estão sempre a pedir mais irmãos (cruzes, credo!). Mas a ideia de nos terem só para eles, sem termos de dividir a atenção pelos outros, deixa-os mesmo contentes. A ideia de que estamos ali, só para os ouvir, só para eles, sem distracções, confusões e outras complicações, é um deslumbramento novo que apreciam verdadeiramente.
Quando a Madalena for para a escola, faremos o mesmo com ela. Provavelmente programas de miúda, tipo ir às compras e coisa assim (iupiiiiiii!). E então haverá um DFU a cada três semanas. Porque lá porque decidimos ter vários filhos, não queremos que eles sejam (sempre) um rebanho. E se na maior parte das vezes é bom viver em grupo, com a chinfrineira típica que implica ter três crianças numa casa, também é gostoso, de vez em quando, essa concentração numa só ovelha. Porque cada ovelha é diferente da outra. Porque cada ovelha precisa de cuidados específicos. Porque se é verdade que amamos todas as nossas pequenas ovelhas com a mesma intensidade, também é verdade que as amamos de modo distinto. Único. Ímpar."
Sónia Morais Santos
Revista Pais e filhos
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