Deixa uma obra marcada pelo amor, a dor e a morte. Lutou contra a ditadura militar responsável pelo assassinato do seu filho e foi forçado ao exílio em 1976. Nunca deixou de se bater pelos direitos humanos, contra qualquer forma de poder absoluto.
Disse numa entrevista ao diário El País no ano passado, quando já estava muito doente, que não desprezava a vida, mas que também não temia a morte. Depois de décadas de poesia e de resistência, marcadas pela morte do filho às mãos da ditadura, o argentino Juan Gelman morreu esta terça-feira, na Cidade do México, onde vivia. Tinha 83 anos.
Continuava a passear, a fumar e a ler. Dizia que todos os poetas que conhecia tinham sentido de humor e falava baixinho, lembram os jornalistas do diário El País que o entrevistaram em Abril do ano passado. Rejeitava, como sempre, que associassem a palavra “comprometida” à sua poesia: “O lugar que a ideologia ocupa na subjectividade de um escritor parece-me muito pequeno.”
Ausencia de amor
Cómo será pregunto.
Cómo será tocarte a mi costado.
Ando de loco por el aire
que ando que no ando.
Cómo será acostarme
en tu país de pechos tan lejano.
Ando de pobre cristo a tu recuerdo
clavado, reclavado.
Será ya como sea.
Tal vez me estalle el cuerpo todo lo que he esperado.
Me comerás entonces dulcemente
pedazo por pedazo.
Seré lo que debiera.
Tu pie. Tu mano.
El juego en que andamos
Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta salud de saber que estamos muy enfermos,
esta dicha de andar tan infelices.
Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta inocencia de no ser un inocente,
esta pureza en que ando por impuro.
Si me dieran a elegir, yo elegiría
este amor con que odio,
esta esperanza que come panes desesperados.
Aquí pasa, señores,
que me juego la muerte.
Fonte:http://www.publico.pt/cultura/noticia/morre-o-poeta-argentino-juan-gelman-1619732
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