Novas Coisas da China
Antonio Caeiro
A China e as suas mudanças políticas, económicas e sociais vertiginosas relatadas pela pena arguta de um jornalista português em Pequim
António Caeiro é jornalista profissional há quase 40 anos, 17 dos quais passados como repórter a falar das mudanças na China e da vida dos chineses aos portugueses, através da agência Lusa.
Desde que Caeiro chegou ao país, em 1991, tem assistido a uma espiral imparável de mudanças, políticas, económicas e sociais, que transformaram radicalmente a China.
Dotado de um fino humor, o seu livro “Novas Coisas da China (“Mudo logo Existo”) retrata a realidade pura e simples. Por vezes, uma realidade muito séria, outras a realidade muito cómica de uma nação gigantesca em processo de mudança rapidíssima.
Quando lhe pedimos que explique o que é hoje a China, se capitalista se comunista, Caeiro hesita e diz que essa pergunta é recorrente mas de resposta difícil.
“Como definir a China”, interroga-se, sublinhando, em resposta, que a própria experiência chinesa tem vindo a desfazer essas designações dadas no ocidente.
“Por um lado vive-se num capitalismo selvagem como já não existe no Ocidente, semelhante ao vivido nos EUA no início do século passado, mas por outro com um partido comunista tradicional no comando”, diz. “Não se pense que o sistema comunista foi abolido. O Partido Comunista Chinês (PCC) dirige o país e a sua orientação é cardeal. O poder político é autoritário. Quanto ao resto, assiste-se à ascensão de uma classe média rica, com cerca de 200 milhões de chineses que coabitam com os outros milhares de milhões de camponeses que vivem na pobreza e também procuram mudar o seu estilo de vida.”
“O povo sente naturalmente uma enorme confusão”, reconhece. “Pressente-se uma grande confusão, em primeiro lugar a nível familiar, com famílias de apenas um filho e com uma maior mobilidade social das pessoas.
Caeiro diz que a taxa de divórcios é elevadíssima, num país em que tudo está a mudar.
Essa mudança é “mais dramática” para os mais velhos, nascidos e criados na ortodoxia comunista chinesa. “Anteriormente eram todos igualitariamente pobres, e agora há milhões de ricos entre eles”, destaca.
Por outro lado, há cada vez mais oportunidades para as pessoas melhorarem as suas vidas. “Milhões de chineses têm casa própria, carro, conta bancária e todos os anos fazem viagens ao estrangeiro”, sublinha, numa comparação com a vida dos chineses num passado ainda recente. O povo diz que “há coisas boas e coisas más”.
Interrogado sobre se a vida também é melhor para um estrangeiro hoje na China, Caeiro recorda que quando chegou tinha de viver numa zona determinada pelo governo, tinha uma vasta limitação de circulação pelo país, coisas que mudaram substancialmente.
O jornalista, como qualquer estrangeiro, reconhece que hoje vive em Pequim onde quer que deseje, sem qualquer proibição. Basta que consiga pagar pelo condomínio escolhido.
“Vendo as coisas daí, há um ‘perigo amarelo’ para o Ocidente?”, pergunto. Caeiro ri-se e diz que depende do ponto de vista. “No Ocidente há pessoas apreensivas com a ascensão comercial e militar da China”, admite, sublinhando que esse processo sempre foi assim. “Foi assim com os EUA, com a Alemanha e com o Japão”, mas nada garante que a ascensão da China seja semelhante à da Alemanha ou à do Japão. Não prolonguemos o passado”, avisa.
“Nem os Estados Unidos conseguem dominar o mundo todo (falta-lhes sempre a China) nem a China o conseguiria mesmo que quisesse”, explica.
O jornalista reconhece que, durante décadas, o Ocidente ajudou a transformar a China na “fábrica do mundo”, mas agora também a Europa e os Estados Unidos o que pretendem é vender os seus produtos à China, que dispõe de avultadas reservas de divisas. Sobre a crise na Europa e em Portugal, o jornalista, à boa maneira chinesa, relativiza. “Crise significa simultaneamente perigo e oportunidade. E os chineses têm tirado partido dessas novas oportunidades, fazendo investimentos de monta na Alemanha e em Portugal”, acrescenta. “Portugal foi alvo de um dos maiores investimentos da China no mundo (2,7 mil milhões de euros pela aquisição de 21,2% da EDP)”, recorda.
Fonte:http://www.ionline.pt/artigos/mundo/novas-coisas-da-china-ou-distante-olhar-portugues-pequim
Desde que Caeiro chegou ao país, em 1991, tem assistido a uma espiral imparável de mudanças, políticas, económicas e sociais, que transformaram radicalmente a China.
Dotado de um fino humor, o seu livro “Novas Coisas da China (“Mudo logo Existo”) retrata a realidade pura e simples. Por vezes, uma realidade muito séria, outras a realidade muito cómica de uma nação gigantesca em processo de mudança rapidíssima.
Quando lhe pedimos que explique o que é hoje a China, se capitalista se comunista, Caeiro hesita e diz que essa pergunta é recorrente mas de resposta difícil.
“Como definir a China”, interroga-se, sublinhando, em resposta, que a própria experiência chinesa tem vindo a desfazer essas designações dadas no ocidente.
“Por um lado vive-se num capitalismo selvagem como já não existe no Ocidente, semelhante ao vivido nos EUA no início do século passado, mas por outro com um partido comunista tradicional no comando”, diz. “Não se pense que o sistema comunista foi abolido. O Partido Comunista Chinês (PCC) dirige o país e a sua orientação é cardeal. O poder político é autoritário. Quanto ao resto, assiste-se à ascensão de uma classe média rica, com cerca de 200 milhões de chineses que coabitam com os outros milhares de milhões de camponeses que vivem na pobreza e também procuram mudar o seu estilo de vida.”
“O povo sente naturalmente uma enorme confusão”, reconhece. “Pressente-se uma grande confusão, em primeiro lugar a nível familiar, com famílias de apenas um filho e com uma maior mobilidade social das pessoas.
Caeiro diz que a taxa de divórcios é elevadíssima, num país em que tudo está a mudar.
Essa mudança é “mais dramática” para os mais velhos, nascidos e criados na ortodoxia comunista chinesa. “Anteriormente eram todos igualitariamente pobres, e agora há milhões de ricos entre eles”, destaca.
Por outro lado, há cada vez mais oportunidades para as pessoas melhorarem as suas vidas. “Milhões de chineses têm casa própria, carro, conta bancária e todos os anos fazem viagens ao estrangeiro”, sublinha, numa comparação com a vida dos chineses num passado ainda recente. O povo diz que “há coisas boas e coisas más”.
Interrogado sobre se a vida também é melhor para um estrangeiro hoje na China, Caeiro recorda que quando chegou tinha de viver numa zona determinada pelo governo, tinha uma vasta limitação de circulação pelo país, coisas que mudaram substancialmente.
O jornalista, como qualquer estrangeiro, reconhece que hoje vive em Pequim onde quer que deseje, sem qualquer proibição. Basta que consiga pagar pelo condomínio escolhido.
“Vendo as coisas daí, há um ‘perigo amarelo’ para o Ocidente?”, pergunto. Caeiro ri-se e diz que depende do ponto de vista. “No Ocidente há pessoas apreensivas com a ascensão comercial e militar da China”, admite, sublinhando que esse processo sempre foi assim. “Foi assim com os EUA, com a Alemanha e com o Japão”, mas nada garante que a ascensão da China seja semelhante à da Alemanha ou à do Japão. Não prolonguemos o passado”, avisa.
“Nem os Estados Unidos conseguem dominar o mundo todo (falta-lhes sempre a China) nem a China o conseguiria mesmo que quisesse”, explica.
O jornalista reconhece que, durante décadas, o Ocidente ajudou a transformar a China na “fábrica do mundo”, mas agora também a Europa e os Estados Unidos o que pretendem é vender os seus produtos à China, que dispõe de avultadas reservas de divisas. Sobre a crise na Europa e em Portugal, o jornalista, à boa maneira chinesa, relativiza. “Crise significa simultaneamente perigo e oportunidade. E os chineses têm tirado partido dessas novas oportunidades, fazendo investimentos de monta na Alemanha e em Portugal”, acrescenta. “Portugal foi alvo de um dos maiores investimentos da China no mundo (2,7 mil milhões de euros pela aquisição de 21,2% da EDP)”, recorda.
Fonte:http://www.ionline.pt/artigos/mundo/novas-coisas-da-china-ou-distante-olhar-portugues-pequim
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